No último domingo aconteceu o momento máximo do futebol: a final da Copa do Mundo. A Alemanha depois de nos golear por 7 a 1 sagrou-se tetracampeã mundial e entra para a história como uma das melhores seleções das últimas décadas.
O último mês foi espetacular para o amante do esporte e muitas histórias e lições ficaram. No post Lições da Copa pt. 1 compartilhei os que para mim foram os principais aprendizados da primeira fase da Copa. Agora vamos aos principais aprendizados dessa fase final.
1- Planejamento da Alemanha
A Alemanha deu uma aula de planejamento ao longo da Copa e muito antes da Copa também. A verdade é que esse título alemão começou a ser construído mais de 10 anos atrás. O processo de renovação da seleção alemã passou por um projeto sério de desenvolvimento de novos talentos a partir das categorias de base, e não se limitando apenas a jogadores. O treinamento e formação de treinadores também foi um componente importante nesse processo.
Antes da Copa começar a equipe começou a investir em questão estrutural na Bahia, onde seria a sede do time em sua estadia no Brasil. Construíram um Centro de treinamento e asfaltaram as estradas que davam acesso a este para que não houvesse surpresas e acidentes durante a copa
Além disso ações de Marketing e Relações públicas foram extremamente importantes ao longo da campanha. O segundo uniforme em homenagem ao Flamengo, os jogadores cantando o hino do Bahia, a integração com os moradores do vilarejo local e a maciça participação dos jogadores através das redes sociais fizeram com que o grande algoz da Seleção brasileira se tornasse o time favorito dos torcedores brasileiros após a nossa eliminação.
Esse trabalho de planejamento e Marketing 360 graus foi essencial na campanha alemã e merece ser estudado e lembrado.
2- As estratégias de van Gaal
O técnico holandês Louis van Gaal foi uma grande atração da Copa do Mundo. Nós podemos ver logo na estreia da seleção holandesa contra os atuais campeões do mundo que ele havia trazido uma proposta tática diferenciada para o time.
Entretanto o momento mais marcante como estrategista do técnico van Gaal foi durante as quartas-de-final contra a Costa Rica. O jogo empatado ia se encaminhando para uma disputa de pênaltis e ao invés de usar as substituições para colocar jogadores com gás renovado para a disputa o técnico guardou uma substituição para colocar em campo o terceiro goleiro em uma atitude inesperada e inusitada. O goleiro gigante Krul entrou para a disputa de pênaltis, agarrou 2 e saiu como o herói do jogo.
É digna de louvor a atitude arriscada do técnico, mas me parece muito acertada do ponto de vista objetivo. É difícil confiar apenas em critérios objetivos em situações de jogo como essa, mas certamente ele se baseou em estatísticas sérias que apontavam que essa escolha teria mais probabilidade de leve-los a vitória. Esse tipo de pensamento me lembra o Moneyball (Livro do Michael Lewis e filme estrelado por Brad Pitt) que mostra como algumas estatísticas não são levadas a sério na hora de valorizar ou desvalorizar jogadores visando a construção de um time.
3- Sucesso e fracasso do Brasil
O Brasil perdeu dentro do campo mas ganhou de goleada fora de dele. A organização do Mundial foi aclamada pela mídia nacional e internacional bem como pelos visitantes. A pesquisa da Datafolha mostrou que 83% dos visitantes aprovaram como boa ou ótima a organização da Copa. Conhecidos que viajaram pelo país durante esse período relataram que a estrutura aeroportuária funcionou quase que perfeitamente, sem atrasos ou tumultos.
O que parecia um jargão nacionalista de “Vamos fazer a Copa das Copas” acabou se tornando uma verdade inquestionável. A combinação do espírito de festa do brasileiro com as maravilhosas cidades-sede e o excelente futebol apresentado dentro de campo (ao menos pelas demais seleções) transformou a Copa em um espetáculo realmente memorável e talvez definitivamente seja a melhor Copa que acompanhei. Fica aí um difícil desafio para a Rússia ou o Qatar tentarem superar.
Exatamente ao contrário de que todos previam, o sucesso fora de campo veio acompanhado de uma improvável catástrofe dentro de campo.O “apagão” de 6 minutos custou ao Brasil não apenas a tão sonhada vaga na final e oportunidade de disputar o hexa, mas se transformou na pior derrota da história da Seleção Brasileira.
No sentido de aprendizados a lição que fica é o Brasil se mostrou para o mundo como um país a ser respeitado, embora nós todos sabemos que os problemas de natureza estrutural continuarão a incomodar nós que os vivenciamos todos os dias. No futebol aprendemos da maneira mais cruel que o comando de natureza política da nossa seleção está envenenando o legado da camisa canarinho. Nós que amamos o esporte precisamos questionar e fiscalizar a CBF de perto. Mas não somente a CBF. O que me preocupa ainda mais é que em 2 anos teremos os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro e todos nós sabemos que o COB e as confederações esportivas que o compõem possuem estruturas administrativas e de poder semelhantes a da CBF. Vale a pena começar a questionar e traçar as perspectivas realistas de resultados do Brasil nas Olimpíadas antes de dos surpreendermos com novas tragédias.